BR-364 sendo asfaltada |
* Por Paulo Saldanha
Lendo
certa vez o Zé Katraca, de quem sou fã e leitor assíduo, eis que o meu
cérebro que armazena fatos de “antanho” entrou em ebulição para que eu
contasse o causo que passo a relatar.
O
Zé Katraca repassou-nos a história do hospital de Ji-Paraná, e eu lhes
presenteio a seguir com a informação de uma estratégia montada pelo
Governador Jorge Teixeira, de quem fui (e continuo sendo) fiel escudeiro
durante um período rico de realizações nesta abençoada terra que me
serviu de berço.
Bem
ao estilo do meu líder e ídolo o Teixeirão, histórias verdadeiras
precisam ser repassadas, como aquela que permitiu o apoio federal para a
entrega do Hospital de Base e do prédio do TCE, em Porto Velho,
decorrentes do seu arrojo, idealismo, criatividade e ação provedora.
Mas
desejo escrever sobre a rodovia que serve de coluna vertebral para
Rondônia. Muita gente andou pela BR-364 cheia de poeira, buracos e
atoleiros. Muitos amargaram horas, dias e noites dentro de caminhões;
ônibus e automóveis presos, agarrados na lama infernal como se fossem
ilhas rodeadas de piuns e carapanãs por todos os lados.
Contingentes
de migrantes chegavam de todos os quadrantes do país, impulsionados
pelo decantado eldorado, aqui, encravado no Noroeste brasileiro. Sonhos
se misturavam com decepções, mas davam a cor para que milhares se
enchessem de esperança! Muitos desses sonhos se chocavam com a aspereza
regional e com o excesso de malária que grassava ao longo de nossa
geografia desde a época em que os seringais elevavam templos aos lucros
dos seringalistas.
Porém,
vou falar no tempo das nossas diligências: as comitivas transportavam
gente através da BR-364, como disse, carregada de poeira no período da
seca, ou “super pavimentada” por lama da pior qualidade, que engoliam os
veículos quase na altura das suas janelas. Corria o primeiro trimestre
de 1982.
E
o Teixeirão se inquietava com o sofrimento decorrente dessas faltas de
boas condições de tráfego da rodovia. Um dia, sobrevoando a BR-364 de
helicóptero, reviu mais uma vez aquela esteira de quilômetros e
quilômetros de caminhões, ônibus, carros e utilitários atolados. E se
desalentou! Tinha gente em desespero, pedindo socorro. Faltava água e
comida! Alguns transeuntes estavam doentes, com febre causticante,
consoante se pôde verificar. O Governador indicou ao piloto um local
para pouso e, sem fugir dos embates, ouviu pedidos e reclamações!
Decolou,
e logo depois retornando, já trazia garrafas de água, pão e o que mais
foi possível embarcar para minorar os sofrimentos daquele povo. Até
levou, depois, dois doentes para tratamento no hospital da cidade onde
adquiriu os gêneros.
Uma
idéia lhe brotou, faiscante. Em seguida, a bordo do helicóptero, já
vinham o seu fotógrafo e um cinegrafista, os quais documentaram aquela
tragédia toda, quando pessoas foram entrevistadas e cenas dramáticas
filmadas.
De
volta a Porto Velho, do seu gabinete ligou e falou com o Presidente
João Figueiredo, pedindo-lhe pessoalmente uma audiência e o necessário
equipamento de vídeo-cassete onde pudesse ser demonstrada uma situação
caótica. Solicitava o coronel Teixeira para essa ocasião a presença do
ministro dos Transportes, que era, salvo engano, o Elizeu Rezende.
Creio
que foi a Ohana – empresa do Edmar Costa, que se responsabilizava pela
publicidade e propaganda do Governo de Rondônia naquela época – que
preparou o clipe com toda a carga de dramaticidade com que homens,
mulheres e crianças foram flagrados pela câmera competente do
cinegrafista talentoso, vivenciando um caos por conta dos atoleiros
existentes entre Porto Velho e Vilhena.
Na
véspera da audiência com o Presidente Figueiredo, o nosso Governador
chegou à tardinha em Brasília. Quinze minutos antes do encontro, no dia
seguinte, ele já chegava à antessala do gabinete presidencial.
Figueiredo já o esperava! Elizeu Rezende, também. O Ministro do
interior, Mário Andreazza, e o chefe da Casa Militar, Danilo Venturini,
amigos do Teixeirão, também estavam a postos.
Após
os cumprimentos de praxe, sempre tão calorosos, tiveram como seguimento
da reunião a entrega do vídeo cassete para a assessoria do Presidente
da República. O caos foi ali exposto com grandeza técnica exuberante. O
Ministro dos Transportes suava frio! Olhos arregalados dos circunstantes
eram secundados com o balançar de cabeças, algumas já embranquecidas,
apoiando a única decisão que poderia ser tomada pelo Presidente
Figueiredo:
–Elizeu, o desespero do Teixeira passou a ser a minha mais nova obstinação... Precisamos asfaltar a estrada do Teixeira!
E a BR 364 foi asfaltada! E o asfalto estendido até Rio Branco, no Acre.
E
eu, ao lado de outros assessores, fiz parte da comitiva liderada pelo
saudoso governador Jorge Teixeira que a inaugurou em 1984 desde Vilhena
até Ariquemes, depois ali em Porto Velho, com a presença do Presidente
João Figueiredo e de integrantes dos seus Ministérios, inclusive do novo
Ministro dos Transportes, Cloraldino Severo, num palanque que recebeu
no trevo do Roque a figura do Paulo Maluf, então candidato à Presidência
da República, eleição vencida em 1984 no Colégio Eleitoral pela dupla
Tancredo Neves e José Sarney.
* PAULO CORDEIRO SALDANHA: Nasceu em 1946, em Guajará–Mirim, Rondônia. É
Advogado e hoteleiro. Foi Presidente de Bancos Estaduais de Rondônia e
Roraima, Diretor do Banco da Amazônia e Diretor–Geral do Tribunal
Regional do Trabalho da 14º Região. Cronista e Romancista. É Membro
Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da
Academia de Letras de Rondônia-ACLER.