Por Fábio Marques
Tenho ouvido de alguns amigos reclames sobre meus últimos
artigos. Segundo eles, a Coluna teria mudado o discurso, ficou mais
maneira, não está mais falando as verdades que doem; em suma, ficou mais
light. Outros, mais atrevidos, chegaram até a cogitar que eu estaria
vendido para o comando do Palácio Pérola. Não rebato as críticas como
injúrias até porque nunca me apresentei como o tipo que rascunha tudo
aquilo que lhe faz cócegas na cabeça e acaba na mão que empunha a
caneta. Mas a verdade é que não está havendo nenhum tipo de negócio com o
poder que gerencia a cidade por conta da Coluna ter ficado mais light.
O que está havendo é que, seguindo a conselhos médicos,
resolvi diminuir a estafa em vista dos últimos exames que fui obrigado a
fazer, e que pelo resultado do check-up, parecem recomendar além da
abstenção de picanhas e buchadas com mocotó, também pedem menos estresse
neste período de dieta. Trata-se portanto de um regime, de uma trégua.
Mas existem coisas que não dá para se conformar. Quando, por
exemplo, aparece por aqui deputado fulano de tal lá de Porto Velho ou
Sicrano de tal lá de Brasília, se metendo nos assuntos da cidade,
descendo o cacete em prefeito, botando a culpa na Câmara pela situação e
passando a mão na cabeça de candidatos de seus agrados; e quando isto
acontece tudo fica por isso mesmo, nem ao menos uns cascudos acabam
levando, é porque alguma coisa está errada. Faço aqui um parágrafo para
tomar uma Itaipava e em seguida retorno. Parágrafo.
Uma
das piores coisas para o Estado de direito é as pessoas que dele fazem
parte usarem de forma ilícita o aparato estatal para atingir seus
nefastos objetivos. Nesta cidade, aqui e acolá a gente vê agentes
burocratas que nada fazem e ao mesmo tempo usufruem de conforto e bens
materiais que não condizem com o salário que recebem. Ora! Dois mais
dois são quatro. Nunca vão dar mais que isso na máquina de calcular. A
praxe é a seguinte: que se dane a justiça, o que importa são os
interesses. O apego ao dinheiro e ao status como válvula de escape para
recalques, à custa de propinas, achaques ou corrupção pura e simples e o
desapego aos valores éticos parecem que andam em alta por aqui. É de
arrombar os culhões!
E os problemas
se misturam. É a verdade do universo e a prestação que vai vencer. À
maneira do saudoso poeta e roqueiro baiano Raul Seixas, hoje também me
vejo obrigado a entrar em casa com a garrafa de bebida enrustida porque a
mulher não pode ver. Aí de vez em quando me aparece um imbecil que
pergunta porquê que com meu talento e vocação para a escrita, a Academia
dos escribas de Guajará-Mirim nunca me ofertou convite para fazer parte
da equipe. Sou obrigado a explicar primeiro que não sou escritor de
elite, sou escritor marginal, aquele que escreve o que o povo discute
nos bares e tabernas e segundo porque este título jamais iria pagar as
minhas contas. O maior título do cara que escreve são seus leitores e
são somente estes leitores que justificam o fato de eu continuar aqui.
E fim de papo.
Coluna Almanaque - EU TAMBÉM VOU RECLAMAR
Por Fábio Marques
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março 26, 2017
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