Evo Morales renunciou neste domingo (10) ao cargo de
presidente da Bolívia, após uma escalada nas tensões no país. O anúncio foi
feito em rede nacional, pela televisão.
O vice-presidente, Álvaro García Linera, também apresentou a
renúncia.
"Eu decidi, escutando meus companheiros, renunciar ao
meu cargo da presidência", ele disse.
Logo em seguida, ele ataca seus opositores Carlos Mesa e
Luis Camacho.
"Por que tomei essa decisão? Para que Mesa e Camacho
não sigam perseguindo meus irmãos dirigentes sindicais. Para que Mesa e Camacho
não sigam queimando a casa dos governadores de Oruro e Chuquisaca."
Ele ainda classificou a situação como um golpe: "Lamento muito esse golpe cívico, e de alguns setores
da polícia podem se juntar para atentar contra a democracia, contra a paz
social com violência, com amedrontamento para intimidar o povo boliviano."
Morales havia dito, mais cedo neste domingo, que convocaria
novas eleições, após a Organização dos Estados Americanos, OEA, divulgar que as
eleições de 20 de outubro haviam sido fraudadas.
Não está claro como vão acontecer as novas eleições e nem se
ele mesmo será candidato. Mais cedo, ao anunciar a nova votação, ele disse que
elas são importantes para que o povo boliviano possa eleger novas autoridades,
"incorporando novos atores políticos".
Veja a cronologia da crise na Bolívia
Pouco antes da renúncia, os chefes das Forças Armadas e da
Polícia, além da oposição, haviam pedido que Evo Morales deixasse o cargo para
"pacificar" o país.
Nas últimas horas, ao menos três ministros também entregaram
seus cargos.
Eleições tumultuadas
A crise na Bolívia tomou maiores proporções após as eleições
de 20 de outubro, quando Evo foi reeleito em primeiro turno.
Na época, o órgão responsável por computar os votos apontou
o seguinte resultado final:
Evo Morales: 47,07% dos votos
Carlos Mesa: 36,51%
Como a diferença entre Morales e Mesa foi de mais de 10
pontos percentuais, o atual presidente foi reeleito para seu quarto mandato.
O resultado foi contestado pela oposição e, no dia 30 de
outubro, a Bolívia e a OEA concordaram em realizar uma auditoria.
Antes desses números serem publicados houve uma indefinição:
inicialmente, havia um método mais rápido e preliminar de apuração, e um outro,
definitivo e mais lento, onde se conta voto a voto. Os números dessas duas
contagens começaram a divergir, e a apuração mais rápida, que indicava que
haveria um segundo turno, foi suspensa.
Desde que Evo ganhou, a oposição tem ido às ruas em protestos.
A polícia parou de reprimir as manifestações, e houve motins em quartéis do
país.
Na sexta (8) e no sábado (9) policiais bolivianos se
amotinaram. O governo respondeu com um comunicado no qual denunciava um plano
de golpe de estado.
Fonte: G1