Antes de mais nada, convém apresentar o mister Gerald, homem bom, cientista criativo, eletrotécnico, mecânico, filósofo, enfim, um múltiplo homem com os mais variados dons com que Deus o presenteou à sua família que, por sua vez, o ofereceu como empréstimo à humanidade de sua geração.
Ocorre,
que mister Gerald tem uma “tara”: é doido, doidinho da Silva por
tucumã, razão aliás de alguns dissabores que já o alcançaram por conta
desse vício que jamais se desalojou do seu perfil de nordestino
intrépido, apaixonado por essa Amazônia de Deus, Pai e Criador.
Convém
mais ainda: vou falar do Mister Gerald, cidadão muito macho, valente
mesmo, que me dá um orgulho enorme, danado de grande, em divulgar suas
proezas, posto ser ele sempre invadido por um destemor que se apodera do
homem, numa intensidade tal, que lhe modifica o semblante quase insano,
ponto forte na sua índole, personalidade peculiar, pois tem apego à
aventura e ao desafio, e descobri que esse homem tão valente, já na lua
de mel, demonstrou a que veio para o seu casamento de mais de 43 anos
como um dos seus atributos mais determinantes – a coragem.
Na
primeira semana após o casório, o casal acordou com barulho típico
dando conta de que sua residência estava sendo invadida. E Mister
Gerald, escondendo-se atrás da bela esposa exigiu que ela enfrentasse as
feras que tinham ousado ingressar sorrateiramente no ambiente familiar.
Ela, negando-se, concorreu para o choro intermitente, angustiado, com
direito a soluços, derramado pelo chefe, em tese, de família. Madame
Lúcia, comovida com a reação lacrimejante do marido, munindo-se de uma
vassoura, enfrentou com fúria defensiva os bandidos de plantão.
Depois,
envergonhado Mister Gerald desejou voar no cabo da vassoura de que a
esposa valente se valera para enfrentar a quadrilha.
Valentias
à parte, Mister Gerald um dia visitou a fazenda de um grande amigo e
eis que, na companhia do coleguinha Eurácio Torito, no campo aberto,
descobriu cocos de tucumã amarelinhos que exerceram forte influência
positiva nas suas pudicas glândulas salivares.
Pedindo
que diminuísse à marcha do carro saltou com ele em movimento e correu
com o desespero dos aflitos em direção ao primeiro tucumanzeiro que
descobriu. E, antes de abraçá-lo, esquecendo-se de que o tronco é
protegido por espinhos, eis que, na correria, Mister Gerald foi
surpreendido pela adversa geografia do terreno e caiu num poço, como
quem cai do alto de um coqueiro, por um buraco aberto por força de uma
chuvarada, quando foi engolido traiçoeiramente. Enquanto despencava,
lembrou-se de que no fundo daquele ôco vertical poderia ter uma jararaca
ou uma pico-de-jaca. Mal tocou no fundo uma força estranha o impeliu
para cima, demonstrando que a sua ligeireza ainda funcionava, numa
agilidade tamanha que só o medo, digo, a coragem dele pôde conceber.
Noutra
feita, como homem corajoso que parece ser, ele chegou de mansinho à
base da caixa-d’água – lugar distante das edificações – e começou a
instalar um sistema mais moderno de captação do líquido universal,
quando ouviu vozes. E arrepiou todos os cabelos do sovaco e ficou
tremendo. Pensou em fantasma ali naquele ermo! Ora, a tal alma falava em
português, ora em castelhano. Ora, falava baixo, ora um tonitruante som
era entreouvido naquele entorno. Pensou em correr. A voz reverberava na
mata verdejante ali bem perto. Um tremor nos lábios denunciava violenta
agonia, mas as pernas não mexiam. Estava no mais elevado grau de
frouxidão, quase promovendo conseqüências indesejáveis no seu esfíncter,
em vias de entrar em atividade Lânguida, humilhante e sem graça alguma.
De repente, descobriu que o vigilante do local, do alto da caixa d’agua vinha descendo, pela escada instalada, após falar ao celular, porque daquela altura o sinal era mais forte.
Riu amarelado e ganhou novas cores no seu rosto que, segundos antes estava denunciando pavor, violento medo que o paralisara momentaneamente.
De repente, descobriu que o vigilante do local, do alto da caixa d’agua vinha descendo, pela escada instalada, após falar ao celular, porque daquela altura o sinal era mais forte.
Riu amarelado e ganhou novas cores no seu rosto que, segundos antes estava denunciando pavor, violento medo que o paralisara momentaneamente.
O
Mister Gerald está aí forte, resolutamente generoso e abnegadamente
companheiro, cada vez mais valente, corajoso e intrepidamente vencedor
de desafios... e continua apreciador de tucuman.
Continua
mais: muito valente! Valentia que só perde para a qualidade superior do
destemor sempre, a qualquer tempo, demonstrado por sua mulher.* PAULO CORDEIRO SALDANHA: Nasceu em 1946, em Guajará–Mirim, Rondônia. É Advogado e hoteleiro. Foi Presidente de Bancos Estaduais de Rondônia e Roraima, Diretor do Banco da Amazônia e Diretor–Geral do Tribunal Regional do Trabalho da 14º Região. Cronista e Romancista. É Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.