Alguém, que não sei quem é ou quem foi, deixou cravado: “Um dia a lágrima disse ao sorriso: invejo-te porque vives sempre feliz. O sorriso respondeu: engana-te, pois muitas vezes sou apenas o disfarce da tua dor”.
Há
lágrimas que advém do infinito da dor, e outras repousam na alegria
suprema, comoção que nos envolve quando a emoção nos surpreende!
As
lágrimas que derivam da dor têm o gosto do mar e a cor plúmbea da
tormenta, mas lá na fímbria azul do firmamento fica escondida uma
válvula de escape em nome da sua transformação em doce saudade...
E lá nesse encontro, já no núcleo do horizonte, há uma chama que se conhece com o nome sagrado de ESPERANÇA!
Outras
lágrimas nascem do amor naufragado após anos, dias e noites de um
convívio tão íntegro, mas que, mercê do cansaço espiritual, fica
malogrado por conta da rotina que desemboca na mesmice, a qual
fossiliza, imobiliza e traumatiza.
Khalil Gibran nos ensina que “deve existir algo e estranhamente sagrado no sal: está em nossas lágrimas e no mar”...
Há
lágrimas vertidas decorrentes da conquista de um bem, valor ou vitória
alcançada em cima do trabalho árduo ou da dedicação mais extremada, ao
fim e ao cabo de uma trajetória, sucedida pela análise de que, sim,
valeu a pena, posto que as almas envolvidas não foram pequenas. Vencer
foi preciso!
Nas
disputas nos concentramos na lágrima como explosão de júbilo por quem
nas Olimpíadas venceu mais um embate. Aí, então, é choro que não acaba
mais, pelo orgulho de representar o País e o presentear com a medalha de
ouro, instante em que o sorriso se confunde com as lágrimas derramadas
justamente quando é entoado o Hino Nacional.
Há,
na outra ponta, o sorriso malicioso, debochado, sarcástico daqueles que
se acham mais inteligentes, mas não passam de apaniguados pela soberba
dos dissimulados e pela infâmia dos fariseus...
O
genial Charles Chaplin deixou evidenciado de que “é preciso crer no
riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror”.
Neste
instante, todavia, em que a saudade caminha de mãos dadas com a
ternura, eu peço a todos que reconheçam as minhas razões e “tirem o seu
sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor...” Nelson
Cavaquinho me deu permissão para me valer da sua frase. E Victor Hugo me
orientou na crença de que “o homem é forte pela razão; a mulher,
invencível pela lágrima. A razão convence; a lágrima comove”.
Há
ainda o misto de sensações que brotam sob a forma de sorrisos
entremeados com as lágrimas que insistem em orvalhar os nossos olhos ao
ouvirmos as canções que nos inspiram e nos incendeiam, ou nos despertam
ou nos acalmam, porque traduzem as mais íntimas recordações ao fazermos
uma regressão ao tempo da nossa mais tenra infância, e que nos remetem
ao útero materno e à figura da Mãe, num instante em que ela nos ninava
ou quando nos acudia nos inseguros primeiros passos como habitantes do
planeta...
Lágrimas
acontecem num momento de exaltação da vida em que é chegado o auge da
nossa alegria, externada mediante a abertura do “vertedouro” dos olhos
com a contradição do sorriso, sublime momento de comoção elevada à
última potência – abalo positivo –, provocado pela reação da
sensibilidade em face da maestria demonstrada ora pelo músico, ora pelo
cantor da canção popular ou erudita, que enleva e arrepia, e tudo se
transforma em frenesi... Porém, jamais será, como é para alguns,
histeria.
E
eu, desprovido de maiores talentos, notadamente para a música e poesia,
ocorre-me a única habilidade que detenho: sorrir, emocionar-me,
sensibilizar-me, chorar e aplaudir os talentos justamente da música, da
poesia, dos esportes, da arte de representar e aqueles benfeitores da
humanidade...
Para esses, eu, que me enterneci sorrindo, tantas e tantas vezes acabei me comovendo, chorando!* PAULO CORDEIRO SALDANHA: Nasceu em 1946, em Guajará–Mirim, Rondônia. É Advogado e hoteleiro. Foi Presidente de Bancos Estaduais de Rondônia e Roraima, Diretor do Banco da Amazônia e Diretor–Geral do Tribunal Regional do Trabalho da 14º Região. Cronista e Romancista. É Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.