Avenida Costa Marques |
Agora, após pesquisas, tenho uma convicção formada: desejo acreditar que o batismo da avenida Costa Marques, implantada nos primórdios de Guajará-Mirim, decorreu da necessidade que os antigos tiveram em mostrar sensibilidade e gratidão ao homenagear a figura de Manoel Esperidião da Costa Marques, um ilustre mato-grossense de tradicional família daquelas abastadas terras.
Esperidião
era engenheiro, monarquista ferrenho e prestigiado político, e foi
contemporâneo de Rondon e de Balbino Antunes Maciel. Sendo vivente na
mesma época desse último, que também era um mato-grossense visionário e
que sonhava com o sonho de Luiz Albuquerque e Cáceres de unir as bacias
do Prata com a Amazônica através da construção de um canal (a exemplo do
de Suez), teve em Esperidião da Costa Marques o estímulo para
substituir essa idéia pela construção de uma ferrovia, cujos estudos
chegou a promover.
Desejariam
ousar mediante a abertura de “uma estrada de rodagem ou de ferro que
ligasse os rios Alegre e Aguapehy e a estabelecer a navegação a vapor
nos rios Jaurú, Alegre, Aguapehy, Guaporé, Mamoré, creando-se assim uma
linha mixta de communicações... abrir um canal que communicasse as aguas
do Alegre e Aguapehy e, portanto, as do Amazonas (leia-se Amazônia) e
Prata - para o estabelecimento de navegação nas duas maiores bacias
d'agua doce da América”.
Na
historiografia do Mato Grosso há outros sobrenomes ‘Costa Marques’ tão
prestigiados como o do Esperidião, a exemplo do Vereador Juliano da
Costa Marques. A Revista VEJA de 2 de junho de 1999 refere-se a Joaquim
Augusto da Costa Marques, governador do Estado de Mato Grosso no começo
do século, como um dos pioneiros da ocupação do Pantanal na região de
Cáceres. Era o irmão mais novo de Manoel Esperidião da Costa Marques e
foi deputado federal em 1909. Mas em 1911, já filiado ao Partido
Republicano Conservador, foi eleito mandatário maior como Presidente da
Província, empossado em 15 de agosto de 1911, governando até 15 de
agosto de 1915. Faleceu na cidade de Cáceres no dia 2 de dezembro de
1939.
Fui
buscar no Carlos Sperança, respeitado jornalista das terras
rondonienses, a esperança para encontrar a justificativa para que a
minha cidade natal tivesse homenageado com o nome de avenida um dos
integrantes da família Costa Marques. Como o ilustre mato-grossense teve
ação física e atitudes políticas e técnico-administrativas entre 1898 e
1906 aqui na nossa geografia, fico com o nome de Manoel Esperidião da
Costa Marques como o alvo do registro histórico nessa gratulação, posto
que, antes de ser chamada de Guajará-Mirim, como Esperidião Marques foi
conhecida.
Registrou Carlos Sperança: “a figura do engenheiro Manoel Esperidião da Costa Marques tem uma história que vai além da epopéia colonizadora regional da Amazônia. Não é por acaso que, além de dar nome a cidade, porto, cachoeira, escolas e ruas, Esperidião Marques também tem o sangue de Rondon – sua mãe era Augusta Nunes Rondon, casada com o tenente-coronel Salvador da Costa Marques”.
Registrou Carlos Sperança: “a figura do engenheiro Manoel Esperidião da Costa Marques tem uma história que vai além da epopéia colonizadora regional da Amazônia. Não é por acaso que, além de dar nome a cidade, porto, cachoeira, escolas e ruas, Esperidião Marques também tem o sangue de Rondon – sua mãe era Augusta Nunes Rondon, casada com o tenente-coronel Salvador da Costa Marques”.
Esperidião
Marques, como ficou mais conhecido, nasceu em Poconé (MT) em 1859. Aos
nove anos elaborou a maquete em argila de toda sua cidade, com praças,
coretos e jardins, ruas e avenidas, casas, solares e casebres, becos e
ruelas, rios e acidentes geográficos, granjeando elogios gerais. Era a
veia do engenheiro que transparecia. Com 17 anos, passou a escrever
crônicas no jornal de Cuiabá. E aos 18 anos, com um grupo de amigos,
saiu em uma expedição exploratória em pequenos afluentes do Pantanal.
Depois da exploração do Guaporé (1896–1898), retornou à região no
período 1901–1903 em missões para levantar o potencial econômico e
extrativista da região e para criar os postos fiscais de arrecadação do
Estado.
A
missão de Cândido Rondon estendeu linhas telegráficas pela região
estudada por Costa Marques (o grifo me pertence). A linha de Cáceres a
Mato Grosso, depois Vila Bela da Santíssima Trindade, foi inaugurada em
21 de fevereiro de 1908 e de seu percurso fazia parte a estação de Porto
Salitre. Como o engenheiro Costa Marques morreu de malária, em 18 de
abril de 1906, Cândido Rondon pensou em homenageá-lo dando ao Porto
Salitre o nome de Porto Esperidião, que seria oficializado em 1920.
Depois
de seus estudos sobre viabilidade ferroviária, Marques, em fins de
dezembro de 1905, promovia, consoante já citado, o levantamento
hidrográfico da região e fazia a fiscalização nos postos de arrecadação
de tributos. Pousando em Santa Fé depois de conhecer o Real Forte
Príncipe da Beira, contraiu a febre palúdica.
Esperidião
Marques se tornou distrito em 26 de junho de 1922 e vila em 12 de julho
de 1926, mas, ao ser elevada à categoria de cidade, teve o nome
alterado para Guajará-Mirim, sede do Município do mesmo nome, criado
pela Lei nº 991 de 12 de julho de 1928, da lavra do líder Mário Correia,
governador do Mato Grosso.
Tendo
realizado, pois, ainda em 1898, estudos sobre o vale do Guaporé,
considerando o abandono a que foi relegado, quando o próprio Forte
Príncipe da Beira e as populações foram negligenciados, desejou ainda
promover as exuberantes riquezas tão logo o convite formulado por
Balbino Antunes Maciel para fazer estudos e prospecções lhe surpreendeu;
eis que veio entre 1901 e 1903, visando a fazer medições e avaliações
para respaldarem decisões desse grande mato-grossense empreendedor.
Sua família, a do Marques, receando o pior, não aconselhava a viagem. Mesmo assim, obstinado, descumpriu a orientação familiar e partiu de Cáceres para Vila Bela, mesmo porque estariam inaugurando através de um locomóvel a linha objeto desse traçado, unindo por esse meio as bacias platinas e amazônicas através dos rios Alegre/Aguapeí e Jauru.
Sua família, a do Marques, receando o pior, não aconselhava a viagem. Mesmo assim, obstinado, descumpriu a orientação familiar e partiu de Cáceres para Vila Bela, mesmo porque estariam inaugurando através de um locomóvel a linha objeto desse traçado, unindo por esse meio as bacias platinas e amazônicas através dos rios Alegre/Aguapeí e Jauru.
Disse
o seu irmão Joaquim Augusto da Costa Marques, num lamento comovente:
“feita a inauguração da estrada e tendo chegado com o locomóvel e alguns
vagões carregados de mercadorias ao Porto da Ponte Velha, seguiu para
Matto Grosso e d'ali desceu pelo Guaporé, cujas margens e tributários
foi estudando até o Forte do Príncipe da Beira, justamente na época das
grandes innundações, em que mais frequentes são ali as febres de máo
caracter. E que o Dr. Esperidião tinha demasiada confiança na sua
robustez e no vigor ele sua saúde, e verdadeira predilecção pelos
estudos daquella natureza de tão afamada história e onde realmente tudo
encanta e maravilha os cultores da sciencia”.
Todavia, faleceu em 18 de abril de 1906. A malária o venceu!
Esperidião
foi um idealista de caráter obstinado, era determinado como servidor de
sua terra natal, através de quem relevantes serviços legou à sua
Pátria, com probidade, acuidade e respeito, caminho que o levou à
história, logo, à posteridade...
Esperidião da Costa Marques, um homem, uma lenda, um homem adiante do seu tempo! Virou nome de município, de um lugar – Porto Esperidião - e de Avenida em Guajará-Mirim, que foi geografia de Mato Grosso e hoje pertence ao Estado de Rondônia.
Esperidião da Costa Marques, um homem, uma lenda, um homem adiante do seu tempo! Virou nome de município, de um lugar – Porto Esperidião - e de Avenida em Guajará-Mirim, que foi geografia de Mato Grosso e hoje pertence ao Estado de Rondônia.
* PAULO CORDEIRO SALDANHA: Nasceu em 1946, em Guajará–Mirim, Rondônia. É
Advogado e hoteleiro. Foi Presidente de Bancos Estaduais de Rondônia e
Roraima, Diretor do Banco da Amazônia e Diretor–Geral do Tribunal
Regional do Trabalho da 14º Região. Cronista e Romancista. É Membro
Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da
Academia de Letras de Rondônia-ACLER.