Crônicas Guajaramirenses - Avenida Costa Marques

Por Paulo Saldanha
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O Mamoré
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Avenida Costa Marques
* Paulo Saldanha
Agora, após pesquisas, tenho uma convicção formada: desejo acreditar que o batismo da avenida Costa Marques, implantada nos primórdios de Guajará-Mirim, decorreu da necessidade que os antigos tiveram em mostrar sensibilidade e gratidão ao homenagear a figura de Manoel Esperidião da Costa Marques, um ilustre mato-grossense de tradicional família daquelas abastadas terras.
Esperidião era engenheiro, monarquista ferrenho e prestigiado político, e foi contemporâneo de Rondon e de Balbino Antunes Maciel. Sendo vivente na mesma época desse último, que também era um mato-grossense visionário e que sonhava com o sonho de Luiz Albuquerque e Cáceres de unir as bacias do Prata com a Amazônica através da construção de um canal (a exemplo do de Suez), teve em Esperidião da Costa Marques o estímulo para substituir essa idéia pela construção de uma ferrovia, cujos estudos chegou a promover.
Desejariam ousar mediante a abertura de “uma estrada de rodagem ou de ferro que ligasse os rios Alegre e Aguapehy e a estabelecer a navegação a vapor nos rios Jaurú, Alegre, Aguapehy, Guaporé, Mamoré, creando-se assim uma linha mixta de communicações... abrir um canal que communicasse as aguas do Alegre e Aguapehy e, portanto, as do Amazonas (leia-se Amazônia) e Prata - para o estabelecimento de navegação nas duas maiores bacias d'agua doce da América”.
Na historiografia do Mato Grosso há outros sobrenomes ‘Costa Marques’ tão prestigiados como o do Esperidião, a exemplo do Vereador Juliano da Costa Marques. A Revista VEJA de 2 de junho de 1999 refere-se a Joaquim Augusto da Costa Marques, governador do Estado de Mato Grosso no começo do século, como um dos pioneiros da ocupação do Pantanal na região de Cáceres. Era o irmão mais novo de Manoel Esperidião da Costa Marques e foi deputado federal em 1909. Mas em 1911, já filiado ao Partido Republicano Conservador, foi eleito mandatário maior como Presidente da Província, empossado em 15 de agosto de 1911, governando até 15 de agosto de 1915. Faleceu na cidade de Cáceres no dia 2 de dezembro de 1939.
Fui buscar no Carlos Sperança, respeitado jornalista das terras rondonienses, a esperança para encontrar a justificativa para que a minha cidade natal tivesse homenageado com o nome de avenida um dos integrantes da família Costa Marques. Como o ilustre mato-grossense teve ação física e atitudes políticas e técnico-administrativas entre 1898 e 1906 aqui na nossa geografia, fico com o nome de Manoel Esperidião da Costa Marques como o alvo do registro histórico nessa gratulação, posto que, antes de ser chamada de Guajará-Mirim, como Esperidião Marques foi conhecida.
Registrou Carlos Sperança: “a figura do engenheiro Manoel Esperidião da Costa Marques tem uma história que vai além da epopéia colonizadora regional da Amazônia. Não é por acaso que, além de dar nome a cidade, porto, cachoeira, escolas e ruas, Esperidião Marques também tem o sangue de Rondon – sua mãe era Augusta Nunes Rondon, casada com o tenente-coronel Salvador da Costa Marques”.
Esperidião Marques, como ficou mais conhecido, nasceu em Poconé (MT) em 1859. Aos nove anos elaborou a maquete em argila de toda sua cidade, com praças, coretos e jardins, ruas e avenidas, casas, solares e casebres, becos e ruelas, rios e acidentes geográficos, granjeando elogios gerais. Era a veia do engenheiro que transparecia. Com 17 anos, passou a escrever crônicas no jornal de Cuiabá. E aos 18 anos, com um grupo de amigos, saiu em uma expedição exploratória em pequenos afluentes do Pantanal. Depois da exploração do Guaporé (1896–1898), retornou à região no período 1901–1903 em missões para levantar o potencial econômico e extrativista da região e para criar os postos fiscais de arrecadação do Estado.
A missão de Cândido Rondon estendeu linhas telegráficas pela região estudada por Costa Marques (o grifo me pertence). A linha de Cáceres a Mato Grosso, depois Vila Bela da Santíssima Trindade, foi inaugurada em 21 de fevereiro de 1908 e de seu percurso fazia parte a estação de Porto Salitre. Como o engenheiro Costa Marques morreu de malária, em 18 de abril de 1906, Cândido Rondon pensou em homenageá-lo dando ao Porto Salitre o nome de Porto Esperidião, que seria oficializado em 1920.
Depois de seus estudos sobre viabilidade ferroviária, Marques, em fins de dezembro de 1905, promovia, consoante já citado, o levantamento hidrográfico da região e fazia a fiscalização nos postos de arrecadação de tributos. Pousando em Santa Fé depois de conhecer o Real Forte Príncipe da Beira, contraiu a febre palúdica.
Esperidião Marques se tornou distrito em 26 de junho de 1922 e vila em 12 de julho de 1926, mas, ao ser elevada à categoria de cidade, teve o nome alterado para Guajará-Mirim, sede do Município do mesmo nome, criado pela Lei nº 991 de 12 de julho de 1928, da lavra do líder Mário Correia, governador do Mato Grosso.
Tendo realizado, pois, ainda em 1898, estudos sobre o vale do Guaporé, considerando o abandono a que foi relegado, quando o próprio Forte Príncipe da Beira e as populações foram negligenciados, desejou ainda promover as exuberantes riquezas tão logo o convite formulado por Balbino Antunes Maciel para fazer estudos e prospecções lhe surpreendeu; eis que veio entre 1901 e 1903, visando a fazer medições e avaliações para respaldarem decisões desse grande mato-grossense empreendedor.
Sua família, a do Marques, receando o pior, não aconselhava a viagem. Mesmo assim, obstinado, descumpriu a orientação familiar e partiu de Cáceres para Vila Bela, mesmo porque estariam inaugurando através de um locomóvel a linha objeto desse traçado, unindo por esse meio as bacias platinas e amazônicas através dos rios Alegre/Aguapeí e Jauru.
Disse o seu irmão Joaquim Augusto da Costa Marques, num lamento comovente: “feita a inauguração da estrada e tendo chegado com o locomóvel e alguns vagões carregados de mercadorias ao Porto da Ponte Velha, seguiu para Matto Grosso e d'ali desceu pelo Guaporé, cujas margens e tributários foi estudando até o Forte do Príncipe da Beira, justamente na época das grandes innundações, em que mais frequentes são ali as febres de máo caracter. E que o Dr. Esperidião tinha demasiada confiança na sua robustez e no vigor ele sua saúde, e verdadeira predilecção pelos estudos daquella natureza de tão afamada história e onde realmente tudo encanta e maravilha os cultores da sciencia”.
Todavia, faleceu em 18 de abril de 1906. A malária o venceu!
Esperidião foi um idealista de caráter obstinado, era determinado como servidor de sua terra natal, através de quem relevantes serviços legou à sua Pátria, com probidade, acuidade e respeito, caminho que o levou à história, logo, à posteridade...

Esperidião da Costa Marques, um homem, uma lenda, um homem adiante do seu tempo! Virou nome de município, de um lugar – Porto Esperidião - e de Avenida em Guajará-Mirim, que foi geografia de Mato Grosso e hoje pertence ao Estado de Rondônia. 
* PAULO CORDEIRO SALDANHA: Nasceu em 1946, em Guajará–Mirim, Rondônia. É Advogado e hoteleiro. Foi Presidente de Bancos Estaduais de Rondônia e Roraima, Diretor do Banco da Amazônia e Diretor–Geral do Tribunal Regional do Trabalho da 14º Região. Cronista e Romancista. É Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
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