Mais uma vez justifico a minha iniciativa de dar um start para informar a eventual leitor
![]() |
Guajará-Mirim. |
É
nome de uma das nossas avenidas. Foi médico e humanista, que logo se
tornou um aguerrido membro da sociedade guajaramirense. Eu soube que era
um homem afável, bem humorado e progressista. Agenciou mudanças em nome
do progresso e da afirmação cidadã regional. Transformou-se, pois, em
figura exponencial na obtenção de tais conquistas, até porque tinha
excelente relacionamento na capital da província mato-grossense.
Por
exemplo, recorro ao eminente Professor Abnael Machado de Lima* para
situar, entre outros dados históricos, o valor do doutor Mendonça Lima, e
transcrevo parte do memorial expandido pelo insígne
historiador:“Concluída a construção da ferrovia “Madeira-Mamoré
Railway”, em agosto de 1912, o governo de Mato Grosso instalou em 08 de
outubro deste mesmo ano um posto fiscal no povoado, designando seu
encarregado o guarda Manoel Tibúrcio Dutra. A desvalorização da
borracha, decaindo de preço no mercado internacional a partir de 1914,
forçou a empresa Madeira-Mamoré Railway a cancelar a execução do projeto
de prosseguimento da ferrovia até São Luiz de Cáceres/MT, ligando as
bacias Amazônica e Platina. E de uma extensão a Riberalta, daí seguindo
até La Paz, ambas a partir de Guajará-Mirim. Sendo nesta concentrados os
368 gregos contratados pela empresa Madeira-Mamoré, aliciados pelo
grego Frangulach, ao qual pagaram oito libras por cada dos recrutados.
Com
o cancelamento do projeto, houve dispensa em massa dos trabalhadores da
ferrovia, entre esses os gregos, muitos dos quais se radicaram em
Guajará-Mirim. A suspensão da execução do projeto que transformaria a
localidade em importante núcleo de conexão ferroviária não intimidou
seus habitantes e nem arrefeceu o seu ânimo de luta em prol do progresso
de sua localidade. Assim é que conseguiram a expedição da Resolução n°
869 de 26 de junho de 1922, criando o distrito de Esperidião Marques. E
em 1926 a emissão da Lei n° 962, de 12 de julho, elevando o povoado à
categoria de Vila. Continuaram empenhados para o alcance da autonomia
política, emancipando-se da tutela de Santo Antônio do Alto Madeira.
Contavam com seus líderes, destacando-se entre esses o médico José
Mendonça Lima, assumindo o compromisso de ser o portador da documentação
reivindicatória devidamente assinada pela população e expondo ao
governador do estado do Mato Grosso, Dr. Mário Correia (nome da mais
antiga praça da cidade fronteiriça), a justa procedência. Assim fez. A
Assembléia Legislativa, após a apreciação do documento, considerando-o
da mais elevada importância para a vida social, política e econômica dos
proponentes, votou favorável ao seu atendimento. O governador, ao
receber a aprovação do Poder Legislativo, expediu a Lei nº 991 de 12 de
julho de 1928, estabelecendo o dia 15 de novembro de 1929 para a
instalação do município e da comarca de Guajará-Mirim, desmembrados do
município de Alto Madeira, com os seguintes limites e linha divisória:
Ao Norte, o município de Porto Velho, tendo por linha divisória o rio
Madeira, desde a foz do rio Jaci-Paraná até a foz do rio Abunã.
Ao Nordeste, Leste e Sudeste, o município de Alto do Madeira, tendo por linha de limites o rio Jaci-Paraná desde sua foz no rio Madeira até suas nascentes, destas prosseguindo pelos divisores de águas Mamoré/Ji-Paraná e Guaporé/Ji-Paraná até a nascente do rio São Miguel, daí prosseguindo por esses divisores de águas até a nascente do rio Mequéns. Ao Sul, o município de Alto Madeira, tendo por limite o rio Mequéns desde sua nascente até a sua foz na margem direita do rio Guaporé”.
Ao Nordeste, Leste e Sudeste, o município de Alto do Madeira, tendo por linha de limites o rio Jaci-Paraná desde sua foz no rio Madeira até suas nascentes, destas prosseguindo pelos divisores de águas Mamoré/Ji-Paraná e Guaporé/Ji-Paraná até a nascente do rio São Miguel, daí prosseguindo por esses divisores de águas até a nascente do rio Mequéns. Ao Sul, o município de Alto Madeira, tendo por limite o rio Mequéns desde sua nascente até a sua foz na margem direita do rio Guaporé”.
Mais
uma vez o emissário dos cidadãos guajaramirenses foi Dr. José Mendonça
de Lima, “o qual conseguiu a revogação do Artigo 3° da citada Lei, sendo
editados os atos de 1.088 e 1.089 de 06 de abril de 1929, determinando a
instalação da comarca e do município de Guajará-Mirim no dia 10 de
abril de 1929 e nomeando os cidadãos: Manoel Boucinhas de Menezes,
Intendente Geral; José Martins Couto Machado e José Joaquim Guerra, 1º e
2º Intendentes; os cidadãos Dr. José de Mendonça Lima, Sandoval Arantes
Meira, Basílio Magno de Arsolino, Carlos Corrêa Costa, José Salcindo,
Miguel Farias, Pedro Struthos e Pedro Vieira, vereadores; Clóvis Serrão
Ewerton, João Freire Rivoredo, José Cavalcante, Francisco Borges, Pedro
Salvador Oliveira, Leocádio Pardo, Hugo Melo e Hermógenes Costa,
suplentes, ficando assim constituído o Conselho Municipal.
Às nove horas da manhã do dia 10 de abril de 1929, em sessão
solene realizada na escola pública, presidida por Dr. João Mourano, juiz
de direito da comarca, deu-se a posse aos nomeados Intendentes e aos
vereadores membros da mesa diretora eleitos no dia anterior: presidente
José Mendonça Lima, vice-presidente Basílio Magno Arsolino,
primeiro-secretário Carlos Corrêa Costa, segundo secretário Sandoval
Arantes Meiras. José Solecindo Santo, Miguel Farias e Pedro Struthos,
1°, 2°, 3° mesários, respectivamente. Guajará-Mirim (ex-Esperidião
Marques) iniciava a sua trajetória de entidade política autônoma, pronta
a pugnar por seus direitos.
Em
1937, seu povo, liderado pelo Coronel Paulo Cordeiro da Cruz Saldanha,
encaminhou um documento ao Presidente da República Dr. Getúlio Dornelles
Vargas, indicando como alternativa de solução ao isolamento e abandono a
que se encontrava relegado o município a criação de um território
federal no vale do Guaporé/Mamoré, tendo por sede a cidade de
Guajará-Mirim”.
Note-se que, após o abandono pelos anglo-canadenses donos da Guaporé Rubber Company
em 1931, o Coronel Saldanha assumiu o comando dessa organização,
continuando o tráfego de barcos a vapor e a propulsão mecânica no rio
Guaporé e seus afluentes, no trecho entre as cidades de Guajará-Mirim e a
foz do rio Cabixi, e dando início já nesse ano a ligação com a cidade
de Vila Bela, antiga capital do Mato Grosso, valorizando o comércio e a
população ribeirinha.
Assim,
a conquista obtida com a criação do Território Federal do Guaporé
deveu-se à liderança do Coronel Saldanha, que foi estimulado pelos
antigos moradores desta cidade, líderes como ele, inclusive o doutor
José de Mendonça Lima, um talentoso negociador, um embaixador destas
terras em Cuiabá, quando aqui exerceu, ele também, as elevadas funções
de Cônsul brasileiro na vizinha Guayaramerín, cidade boliviana.
Esse
povo altivo e nacionalista desejava que a capital do Território Federal
do Guaporé, enfim criado em 13 de setembro de 1943, fosse, todavia,
aqui na fronteira e não em Porto Velho. Agiu sabiamente o Presidente
Getúlio Vargas entregando à Terra dos Caiaris a sede
político-administrativa da unidade federativa, hoje Estado de Rondônia. A
meu ver, os homens daquele tempo perderam a chance de mudar o nome da
capital para outro mais sugestivo...
* PAULO CORDEIRO SALDANHA: Nasceu em 1946, em Guajará–Mirim, Rondônia. É Advogado e hoteleiro. Foi Presidente de Bancos Estaduais de Rondônia e Roraima, Diretor do Banco da Amazônia e Diretor–Geral do Tribunal Regional do Trabalho da 14º Região. Cronista e Romancista. É Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER. |
*(Fonte:
ABNAEL MACHADO DE LIMA - Professor de História da Amazônia/Universidade
Federal do Pará; Professor de Geografia Regional/Universidade Federal
de Rondônia; Membro do Instituto Histórico e Geográfico/RO; Membro da
Academia de Letras de Rondônia).