Por Fábio Marques
Mais um dia daqueles. Sem nenhum assunto na cabeça para desenvolver
idéias que ao menos pudessem informar os leitores sobre os absurdos da
caótica situação política da cidade, o poeta começou a divagar sobre
fatos consumados e sobre perspectivas acerca do futuro incerto e cheio
de surpresas. Por não conseguir produzir nada, seu estado era de
angústia e depressão.
Toda vez que se sentia incapaz de pensar em
qualquer coisa, também lhe batia a sensação de carregar o fardo desta
vida cheia de percalços e agonias. Pensava em seus amigos jornalistas
Fábio Marques e Aluízio da Silva, que bem que poderiam lhe ajudar com
sugestões de pauta ou mesmo lhe emprestar qualquer coisa, qualquer
artigo para não deixar sua coluna em brancas nuvens, mas, sem crédito no
celular, como é que iria se conectar com seus colegas?
As
correntes do raciocínio se diluíam na central elétrica de seu cérebro.
Não conseguia coordenar a linha de pensamento. De repente começou a
pensar em sexo. Mas sexo com amor. Lembranças de uma mulher com quem
tivera um romance há quinhentas cervejas atrás vieram-lhe à cabeça. Ela
aparecia deitada na cama tirando a calcinha e deixando sua mão lhe
acariciar até chegar aos pelos pubianos... E em seguida ao clitóris. Ela
também o queria. Também pedia amor. Lembrara de como havia sido
prazeroso testemunhar seus suspiros e delírios enquanto a possuía: Não
para! Não para! Eu te quero! Agora só restara a saudade. Hoje ela reside
muito além longe daqui. Muito além das planícies e planaltos.
Relembrou também que já fazia muito tempo que parara de jogar pôquer com
chegados e não chegados nas tardes de sábado. Aprendeu o estatuto do
pôquer com um amigo que ficou milionário. Aprendeu e depois esqueceu.
Mas todas as vezes em que que enfrentou alguns metidos, acabou lavando a
“burra”, ou seja, alisou-os. E quando não os alisou, ao menos os
deixava putos da vida. O macete? Pôquer é um jogo de psicologia. É a
psicologia da vivência de boteco. O poeta havia jogado muita porrinha
pelos botecos da cidade. Sempre fôra bom de porrinha. Então o que fizera
foi somente aplicar a psicologia da porrinha ao pôquer. E tem sabichão
que até hoje não se conforma de ter perdido para este ignorante.
Cansado de tudo, estava pensando em parar de escrever. Com a cabeça
repleta de problemas pessoais e contas para pagar, não conseguia se
concentrar e nem segurar a barra. Seu desejo era dar um sumiço e não
aparecer nunca mais. O problema é que, covarde ao extremo para cometer
suicídio e sem dinheiro para bancar terapia, o máximo que poderia fazer
era ir até o Boteco do Clóvis tomar umas cervejas fiado. Estava saindo
da profissão Estava indo embora. Estava indo embora com uma certeza: uma
das poucas coisas decentes que fizera nesta vida fôra escrever para os
jornais. Talvez também pudesse ser possível que estava indo embora
apenas para se acabar entre as coxas de alguma mulher.
Antes de
partir de vez para o eterno talvez, agradeceu às editorias dos sites por
acreditar no seu potencial e deixou uma carta para seus dois filhos
pedindo que pudessem compreender que sempre procurou ser um homem bom,
apesar de ter lhe faltado estruturas de bons hábitos e bons costumes.
Rescue in Peace...
Apoio Cultural:
Coluna Almanaque: FALTA DE ASSUNTO
Por Fábio Marques
Compartilhe no WhatsApp
Por -
março 11, 2019
0