Coluna Almanaque: CENAS DO COTIDIANO

Por Fábio Marques
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 Por Fábio Marques

Duas da tarde de uma segunda-feira no Boteco do Clóvis. As pessoas retornam para o trabalho, a dona da pensão está fechando as portas para assistir “Vale a Pena Ver de Novo”, o vendedor da loja de móveis e eletrodomésticos em frente ao boteco está tentando “empurrar” uma venda num cliente, o marido discute com a esposa a melhor forma de pagar a televisão e a geladeira a prestações. A contragosto do dono do boteco, resolvo pendurar duas Bohêmias e caminho em direção à minha humilde cabana.
Uma vez instalado em meu casebre, adentro o banheiro e tomo um banho com um sabonete barato e me enxugo com uma toalha suja. De repente acabo me lembrando do tempo em que tomava banho com água morna, sabonete Senador e tinha toalha limpinha e cheirosa. Ao sair do banheiro encontro com Miriam, a arrumadeira que de vez em quando aparece para dar uma “meia-sola” na bagunça da casa e lhe faço um pedido: - Miriam, por favor, pega aqui 20 pratas, dá um pulinho ali no Comercial Rio Branco e me compras cinco latinhas de Bohêmias.
Enquanto Miriam se demora e eu me arrumo, fico pensando nas coisas da cidade onde nascemos e vivemos e que para a gente que vivemos a cidade a vida inteira, achamos que ela é muito mais importante ou essencial que duas ou três vitórias do time pelo qual torcemos.
Recordo que no meu tempo não havia em Guajará-Mirim esse amontoado de “pés-inchados” que hoje formam uma multidão no Mercado Municipal ou na praça da Escola Irmã Celeste e que acabam quebrando o coração de qualquer pessoa que tenha alma sensível. Converso de vez em quando com alguns que conheço dos tempos de juventude e posso afirmar que eles têm vergonha de serem pedintes, seres humanos aleijados por dentro, no espírito, vítimas de um sistema carrasco imposto pelas leis do capital, mas que ainda assim te encaram nos olhos como se dissessem: “Apesar de tudo sou um homem, um ser humano e não um cachorro...”. Para não me derramar em lágrimas, faço aqui um parágrafo a fim de degustar a cerveja que acabou de chegar. Voltarei em seguida.
Este negócio de escrever requer muita paciência, exercício e força de vontade. As palavras, às vezes acabam fugindo antes da caneta atingir o papel e por muitas vezes a gente nunca mais encontra. Mas o que eu queria dizer hoje, tanto para o cidadão que convive o dia-a-dia da cidade como ao farrapo humano que sobrevive nos becos do Mercado Público, é que na concepção deste ignorante, o ser humano é um ser humano com todas as suas circunstâncias. O ser humano, além de ser o próprio ser humano, também é sua casa, sua família, sua cidade, seus amigos, seus hábitos e costumes, suas músicas, seus amores, sua história, sua cultura, sua religião, seu time de futebol e até mesmo o seu cachorro.
E isto meus amigos, aprendi numa conversa com um “pé-inchado” do Mercado Municipal.

*O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Mamoré não tem responsabilidade legal pela "opinião", que é exclusiva do autor.
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