Esta semana, a maior rede social do mundo,
o Facebook, começou a sinalizar nos EUA as chamadas “fake news”, ou
notícias falsas, que circulam entre os usuários do site. Com uma pequena
etiqueta vermelha, acompanhada da mensagem “disputed”, ou contestada, e
de um sinal de atenção, as pessoas terão acesso às organizações que
contestam a veracidade da notícia, e dessa forma poder saber se a
notícia realmente é legítima.
De acordo com a assessoria do Facebook, ainda não há previsão para a chegada da ferramenta ao Brasil. No
momento, os testes estão ocorrendo nos Estados Unidos, na Alemanha e na
França. "Para nós, é importante que as histórias que vemos no Facebook
sejam autênticas e significativas. E vamos continuar trabalhando pelo
tempo que for necessário até resolver este problema", divulgou a empresa
em nota ao JB.
Segundo o Facebook, as pessoas que quiserem
compartilhar posts classificados como notícias falsas recebem uma
notificação para confirmar se querem mesmo compartilhar tal conteúdo, e
estes receberão um selo de “conteúdo questionável” para alertar outros
usuários. Além disso, conteúdos falsos não poderão ser promovidos na
plataforma. De acordo com a empresa, histórias também perderão a
relevância conforme forem denunciadas.
O professor de Relações Públicas do curso
de Comunicação Social da Uerj, Ricardo Benevides, comentou sobre a
decisão da empresa americana, sobre a natureza das informações falsas, e
como elas se propagam de diferentes formas.
“São várias questões que envolvem essa decisão. A primeira delas remete à natureza
da informação falsa. Existe a informação falsa deliberada, que é
transmitida intencionalmente. E tem o outro tipo que vai se alterando
dependendo da interpretação das pessoas. É como os boatos, começam
pequenos e vão se tornando maiores e maiores. Isso é incontrolável em
certa medida”, afirmou.
Notícias com conteúdo questionável poderão receber um selo contestando sua veracidade |
Segundo o professor, a transmissão e
aceitação das notícias falsas, por mais absurdas que possam aparentar,
não é algo que surgiu com as redes sociais. “A opinião pública sempre
esteve muito atrelada aos fatores sócio-históricos da sua época. Podemos
traçar um paralelo entre as pessoas que hoje abraçam essas informações
ridículas com as pessoas que seguiram o nazismo na Alemanha”, explicou.
Para
ele, não vivemos em uma época mais propícia para a proliferação de
falsidades, mas alertou: “Não acontece com mais frequência, mas sim com
mais facilidade. As interações pelas redes são mais rápidas do que no
passado. Isso torna uma ilusão de que as pessoas estão mais suscetíveis
às mentiras, mas o fenômeno é apenas mais evidente.“
Na opinião de
Benevides, os boatos devem continuar a existir independentemente da
medida adotada pela empresa, pois também não se trata de algo novo.
Porém, na visão dele, a atitude do Facebook deve atenuar os problemas
criados pela proliferação de notícias falsas.
“O boato sempre vai
haver. A única forma de combater a informação falsa é trazer uma
informação confiável e irrefutável. Aqui no Brasil, agências como a Lupa
e outras organizações de checagem de fato já apontaram um caminho para a
redução de informação perniciosa na rede”, afirmou Benevides.
Vale
lembrar que a nova ferramenta do Facebook vai contar com uma parceria
entre a empresa e grupos como o site norte-americano snopes,
especializado em checagem de fatos. No entanto, a professora da
faculdade de Comunicação Social da UFF, Carla Baiense, teme que, mesmo
com um regramento para evitar a proliferação de notícias falsas, elas
ainda possam causar estragos. “Na internet tudo corre como rastro de
pólvora.”
A atitude do Facebook foi tomada após a empresa ter
recebido uma sequência de acusações de que a disseminação das notícias
falsas teria interferido no resultado das eleições norte-americanas.
Apesar da própria rede social não produzir conteúdo, ela foi um dos
meios pelos quais as chamadas “fake news” se proliferaram.
Para
Baiense, com essa ferramenta o Facebook pretende manter uma boa imagem
ante a sociedade. “Dessa forma, a empresa busca uma repercussão positiva
junto à opinião pública e estabelece um posicionamento definido em
relação às políticas do Trump.”
Mas ela descartou uma preocupação
da corporação americana em relação à legislação do país. “O Facebook
está em uma situação bastante confortável. Ele responde às leis
americanas, que são extremamente liberais em relação à liberdade de
imprensa. Me parece bem pouco provável que a empresa tenha receio de
algum tipo de retaliação legislativa”.
Benevides reconheceu o
valor da ferramenta. “A disputa da verdade nesse espaço das redes sempre
vai acontecer. Eventualmente o Facebook pode marcar uma publicação como
suspeita e mesmo assim ela não ser, ou vice-versa. Mas um internauta
levado a suspeitar da veracidade de qualquer fato é melhor do que um
internauta que não se pergunta qual é a origem da notícia. Pensar
criticamente é essencial na busca pela verdade. E sem isso ela pode
acabar se perdendo”, concluiu.
* do projeto de estágio do JB